Por que ficamos doentes ou temos a imunidade baixa?
A doença, na verdade, é o resultado da interação da resposta gerada pelo sistema imunológico à um estímulo, que pode ser uma infecção. A resposta inflamatória é gerada por uma série de reações entre moléculas e células do sistema imunológico, cada uma com a sua devida função, após o contato e reconhecimento de um germe específico. O objetivo dessas reações é criar mecanismos de defesa para o nosso corpo e eliminar a ameaça em potencial. Os sintomas de uma doença ou de imunidade baixa serão determinados pela natureza e/ou eficiência da resposta imunológica, além do tipo de germe envolvido na infecção. Os sintomas são pistas valiosas do que está acontecendo no corpo humano. Se a resposta do sistema imunológico for adequada, o germe é eliminado e a resposta inflamatória também é controlada para que não ocorra mais danos aos órgãos.
O que acontece se o sistema imunológico não funciona direito?
Quando existe defeito em alguma molécula ou célula importante para que ocorra uma resposta imune adequada, e acontece o contato do indivíduo com algum germe nocivo, este não é eliminado, causando danos que persistem por mais tempo. Os danos podem se repetir muitas vezes, já que ocorrerão novos contatos com germes no ambiente, o que pode ocasionar ao paciente idas ao pronto-socorro, internações e até óbito em alguns casos. O paciente pode apresentar sinusite, pneumonias recorrentes, diarréia crônica, infecções virais e fúngicas. Além disso, a desregulação da imunidade pode levar a doenças autoimunes e linfoproliferação. A imunidade pode estar baixa e/ou desregulada. Por isso, é preciso estar atento aos sinais de alerta para deficiências do sistema imunológico, imunodeficiências primárias ou erros inatos na imunidade. A estimativa mundial é que atualmente existem pelo menos 6 milhões de pessoas portadoras de imunodeficiências primárias ou erros inatos da imunidade, síndromes estimadas em um número de aproximadamente 500, com muitos casos ainda não diagnosticados, principalmente em países subdesenvolvidos. No Brasil, a estimativa é de 170.000 pessoas com Imunodeficiências Primárias, das quais apenas 4.000 têm diagnóstico estabelecido.
O problema da falta do diagnóstico das imunodeficiências primárias e a situação no Brasil
O atraso entre o início dos sintomas das imunodeficiências e o seu diagnóstico é estimado em pelo menos 7 anos segundo registros internacionais. No Brasil, esse atraso é ainda maior. Na suspeita desse tipo de doença, o médico Alergista e Imunologista deve ser consultado imediatamente. Com o diagnóstico precoce e tratamento apropriado, em muitos casos, poderiam ser evitadas internações hospitalares prolongadas, sequelas pulmonares, procedimentos cirúrgicos desnecessários, distúrbios de desenvolvimento de crianças e até mortes. Essas doenças também são fatores de risco para outros problemas de saúde como por exemplo alguns tipos de câncer e doenças auto-imunes. O acompanhamento regular com o especialista deve ser realizado.
Quais são as principais síndromes de imunodeficiências primárias?
Diversos tipos de doenças genéticas são responsáveis por defeitos em proteínas em diferentes etapas da resposta imunológica, e levam aos mais diferentes tipos de alterações na imunidade, imunidade baixa ou desregulada. Os sintomas do paciente, exames de diferente funções da imunidade e algumas vezes testes genéticos, permitem o diagnóstico e tratamento adequado dessas doenças.
Exemplos clássicos:
-Defeitos na produção e/ou função de anticorpos, essenciais na defesa contra bactérias na imunodeficiência comum variável e na agamaglobulinemia, levando a infecções de repetição juntamente com doenças autoimunes e neoplásicas;
-Infecções por fungos ou vírus de repetição como candidíase ou herpes;
-Defeitos que levam ao distúrbio de funções de células T e B nas imunodeficiências combinadas resultando em um quadro mais grave com infecções bacterianas, virais e fúngicas;
-Diminuição da eliminação de linfócitos defeituosos na síndrome linfoproliferativa autoimune, causando doenças de desregulação imune com destruição de células do sangue;
-Defeitos na função de fagócitos, células essenciais para a defesa contra bactérias, levando à doenças granulomatosas crônicas;
-Distúrbios de frações do sistema complemento, conjunto de proteínas que causa a destruição de bactérias nocivas ao organismo, levando à imunodeficiências;
-Síndromes com características faciais ou mais sintomas típicos e que também apresentam defeitos da imunidade como síndrome de Di George, hiper IgE, Ataxia telangiectasia, Wiskott-Aldrich.
É possível ocorrer deficiências na imunidade por outros motivos que não são genéticos?
Algumas doenças, como o câncer e doenças auto-imunes, podem levar à defeitos do sistema imunológico e imunidade baixa, o que chamamos de imunodeficiência secundária. O próprio tratamento dessas e de outras doenças também pode levar a uma imunodeficiência secundária, pois existem medicações que acabam por causar danos ao sistema imunológico. O acompanhamento multidisciplinar com o Alergista e Imunologista é muito importante para a identificação e tratamento desses problemas, evitando complicações como infecções.
Tratamento das imunodeficiências ou desregulação imunológica
O tratamento depende do tipo de defeito imunológico envolvido. Por exemplo, nas deficiências de anticorpos, pode estar indicada a reposição de imunoglobulina IgG. Quando há também uma desregulação da imunidade, medicamentos imunobiológicos podem ser necessários. Em imunodeficiências primárias mais graves, pode estar indicado o transplante de medula óssea (células tronco hematopoéticas). Antibióticos e/ou antifúngicos em doses para a prevenção de infecções podem ser usados por longos períodos. A partir do diagnóstico da imunodeficiência / doença da imunidade e acompanhamento regular com o especialista é possível previnir e monitorizar as principais complicações associadas, como sequelas pulmonares ou alguns tipos de câncer. O tratamento no caso da ocorrência de infecções em pacientes com diagnóstico de imunodeficiência deve ser individualizado e não deve ser conduzido da mesma forma que indivíduos sem a doença.
http://journal.frontiersin.org/article/10.3389/fimmu.2014.00162/full
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4659854/
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